A Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa foi fundada em 1980.

Anunciada em Braga na abertura do 12.º ano académico da UCP (01/11/1979), foi criada um ano mais tarde, por ocasião dos atos inaugurais do Centro Regional de Viseu (16/11/1980).

O Auto da Fundação foi assinado pelo Magno Chanceler da UCP, D. António Ribeiro, pelo Ministro da Educação e Coordenação Científica, Prof. Doutor Victor Crespo, e pelo Reitor da UCP, Prof. Doutor José Bacelar e Oliveira.

A escritura pública notarial da SCUCP foi lavrada a 4 de fevereiro de 1984.


Memória sobre a Origem e Ideia longínqua da Sociedade Científica da UCP


Instado a referir testemunhalmente as origens da “associação cultural”, hoje designada por “Sociedade Científica da UCP”, sou levado a reportar-me ao já longínquo ano de 1951 e à Universidade de Bonn. Estagiando por aí, pouco antes de encerrarem as actividades prelectivas do Sommer-Semester, e deambulando numa tarde quente e luminosa, num dos átrios, vem ao meu encontro o Prof. H. Neuss, catedrático de História, especialmente interessado no fomento do intercâmbio peninsular e latino-americano. E aborda-me, dizendo : - O Prof. Hans Peters, “ordinarius” de direito Internacional na Universidade de Colónia e Presidente da “Görres-Gesellschaft”, procura um estudioso português que sirva de intermediário para o estabelecimento de intercâmbio dessa Sociedade com Portugal e com a América Latina. Convida-o para o efeito. E, no seguimento, poderia participar na Assembleia-Geral e congresso cultural da Görres-Gesellschaft, a efectuar no próximo mês de outubro em Munique.

Este desafio deu o impulso para subsequentes diálogos directos com o Presidente Peters. Comuniquei-os à minha escola, a Faculdade de Filosofia de Braga. O Director desta, Prof. Padre Paulo Durão, espírito clarividente, apreendeu o alcance da iniciativa, capaz de lançar a Faculdade para fora das suas fronteiras. E a nossa escola filosófica, ainda a mais de 20 anos de abertura das portas ao público – embora já reputada através da sua “Revista Portuguesa de Filosofia” – veio de facto a estar presente, no Outono seguinte, em Munique, numa brilhante e mui frequentada assembleia da “Sociedade Científica de Görres” (mais rigorosamente: “Sociedade de Görres para a Promoção da Ciência e Cultura”.

 Suprimida violentemente pelo nazismo, que a encarou como contrapoder doutrinário e social, a Görres-Gesellschaft ressurgira pouco antes, pujantemente, da sua frágil  e precária fase de obnubilação aparente, e a Assembleia Geral e Congresso de Munique constituiram uma prova de irrefragável vitalidade de corporação cultural centrada, em especial nas secções de Filosofia, direito, Política, Letras e História.

Fortes vínculos de interesses intelectuais comunitários vinculavam e manifestavam-se nos seus membros. Havia entre eles personalidades universitárias de grande vulto e significado. Mas, a par delas, apareciam outras, e numerosas, que lhes serviam de contorno, apoio e tutela à obra societária pretendida. Podia verificar-se que os corpos de membros intelectuais e universitários eram o núcleo expressivo de uma finalidade e projecto coletivo. E dotados de energias bastantes para recuperar uma tradição como a que constava já das fases antecedentes, iniciadas em 1876 em Coblença, desafiando o Kulturkampf veemente e jacobino dos tempos do Bismarck. Não admirava, pois, que o nacional-socialismo tenha investido contra a Görres Gesellschaft como contra um adversário com formação e estrutura resistente, operacional e robusta.

Na abertura aos Estatutos da Sociedade Científica da UCP, no “manifesto” que os introduz, faz-se referência à Sociedade Científica de Görres no sentido de indicação de um modelo análogo e paradigmático. Tal a razão da referência.

Esta nossa “memória” de origens exara-se aqui para indicar a inspiração dos primeiros princípios e experiências que modelaram uma das instituições da UCP e levaram ao seu nascimento.

Mais poderíamos indicar sobre as “experiências” de base, que nos abriram e abrem o caminho do futuro.

 Tal ideia de modelo veio-nos várias vezes à mente, anos mais tarde, quando, em comunidade informal mas operativa, nos dedicávamos, em corpo unido, à concepção e levantamento da “Verbo-Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura”. Poderiam testemunhá-lo não só o próprio Editor como os Padres Domingos Maurício, João Mendes e os silenciosos vivos, como Roque Cabral e outros.

 Evocámos os primórdios e origens. Mas podíamos vir à fase orgânica, documentável pela história, dos corpos que a Verbo e a SCUCP souberam congregar, e manter unidos, para a produção da “Polis” e da “Logos”, já explicitamente realizadas sob o patrocínio da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa.

Vale a pena manter a “memória” e a força das origens, mesmo longínquas e implícitas.

Pe. José Bacelar e Oliveira, SJ

Reitor Honorário da UCP
Fundador e primeiro presidente da SCUCP

Texto publicado no primeiro número do Boletim Lumen Veritatis, em janeiro de 1994.