Mensagem da Presidente da Direção

Foi muito honroso e inesperado o convite que recebi, por parte da Senhora Reitora da UCP, para presidir à Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa, pois tenho plena consciência do prestígio dos anteriores presidentes, todos eles figuras eminentes e públicas da nossa sociedade e do mundo académico nacional e até internacional. Mas aceitei com muito gosto esta tarefa, que vejo como um modo de me colocar, com maior exigência e profundidade, ao serviço de uma instituição à qual estou ligada há já bastantes anos pela via da investigação que aqui desenvolvo, no Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, e cujo valor, no contexto sociocultural do nosso País, e não só, considero absolutamente inestimável e decisivo. O meu gosto ao aceitar vem também, naturalmente, da imensa consideração que tenho pela Sociedade Científica da UCP, à qual pertenço há cerca de 10 anos: pela sua história, pela sua missão, pelo seu valor simbólico e pela sua capacidade de incidência real no nosso mundo contemporâneo.

Tendo eu feito parte, nos últimos anos, da direcção presidida pela Sra. Professora Luísa Leal de Faria – com quem aprendi como liderar uma equipa com empenho, inteligência, afabilidade e competência –, e tendo podido estreitar relações com colegas de alto nível académico e humano, percebo agora que esta experiência me pode valer de muito para levar avante o compromisso que assumo neste momento.

E sobre ele deixaria aqui enunciados, para ser muito sucinta, três grandes eixos:

Manter viva a herança desta sociedade, nascida em 1980 à imagem da Görresgesellschaft da Alemanha, pela mão do então reitor e visionário Sr. Padre e Prof. Doutor José Bacelar e Oliveira e sob os auspícios do Magno Chanceler D. António Ribeiro. Manter viva esta memória significa saber verdadeiramente acolher esse legado, essa tradição que, como a origem latina traditio nos recorda, implica uma verdadeira cadeia de transmissão, uma entrega dinâmica, a passagem de valores que, para permanecerem e serem fecundos, devem viver no espírito, na alma e na acção daqueles que os recebem. Ora, logo no início dos Estatutos, nomeadamente no artigo 3º, é claramente explicitado que a SCUCP "tem especialmente por finalidade promover a cultura nos planos intelectual, artístico, moral e espiritual, como instrumento de realização integral do homem, inspirada nos valores cristãos". Esta é a herança que pretendo guardar, acarinhar e, desejavelmente, aprofundar e desenvolver.

Em segundo lugar, decorrendo dos princípios relacionais que nortearam a criação desta sociedade e tendo em mente o constante desafio do Papa Francisco, que nos incita a sermos cristãos em saída, procurar estabelecer parcerias, protocolos, outras formas de colaboração e intercâmbio, mais ou menos formais e estáveis, mais ou menos ágeis e flexíveis, ou até mesmo pontuais, com instituições congéneres ou com outras realidades culturais que partilhem com a Sociedade Científica este seu objetivo central de formação cultural e cristã. Acredito que é da diversidade de sensibilidades, carismas e formas de acção que chega até nós uma riqueza que não devemos nem podemos desperdiçar.

Em terceiro e último lugar, e respondendo à alínea 2 do mesmo artigo 3º, que enuncia que “para a efetivação das suas finalidades, cumpre à Sociedade Científica da UCP estimular as vocações científicas das novas gerações universitárias”, estabelecer um elo de ligação com a comunidade estudantil, promovendo debates que possam tornar-se foros de reflexão cultural, não necessariamente submetidos às matérias científicas estritas que ocupam os nossos estudantes, mas obviamente dentro dessas grandes áreas de estudo e, sobretudo, tendo como propósito colaborar para a missão cultural de uma universidade, que é, sobretudo, a de ensinar a pensar, a ajuizar todo o real a partir de critérios válidos e funcionais, que, no nosso caso, radicam no próprio cristianismo. Penso que teremos todos a ganhar com este tipo de iniciativa: certamente os nossos estudantes, mas também nós próprios, com a novidade e frescura que poderão vir do vigor e do entusiasmo da sua juventude, posta em acção num contexto de debate saudável e livre.

Para poder atingir tais metas conto agora com uma equipa de altíssimo nível, o que muito me alegra e honra; conto também com todos e cada um dos membros desta prestigiosa sociedade –  cujo elevado contributo cultural tem sido visível, de tantas formas, ao longo da sua história –, antes de mais através dessa companhia afectiva que nos une, e que penso poder ser apelidada de “amizade”, ligados que estamos pela mesma grande Razão Cristã, e depois através de toda a colaboração ”prática” que possa vir da disponibilidade, experiência e sabedoria de cada um.

Tentaremos apostar sobretudo na qualidade – não no desdobramento de muitas iniciativas, mas na escolha criteriosa de alguns bons eventos. O tempo, se Deus quiser, jogará a nosso favor para a implementação progressiva dos nossos propósitos, que são, ultimamente, a colaboração dada, através do instrumento valioso que é a SCUCP, a um Bem universal, àquela Sabedoria que Deus oferecia ao rei Salomão, que é a que alia coração e inteligência. Ou, como dizia Santo Agostinho, a que dá felicidade e alegria, porque não consiste apenas em conhecer, mas em conhecer o verdadeiro. E, portanto, mãos à obra.

 

Maria do Rosário Lupi Bello